quarta-feira, 9 de março de 2011
sábado, 3 de julho de 2010
Crônicas de julho 2010

Crônicas de julho de 2010

Olá caro leitor
Para você visitar as primeiras postagens tem de clicar no elenco inicial de 2009 onde aparecem as crônicas 001 e as subsequentes até 024.
Há os acervos
02 -de 025 a 035-,
03 -de 036 a 043-
04 -de 044 a 055-.
O acervo 05 contém a 056 até a 071.
Você pode ver as crônicas de maio a partir da de número 072
e as de junho a partir da número 077.
Aqui serão postadas as de julho 2010.
Faça seus comentários... Abraços / I. Spínola

Sonhava que estava com a memória esquecidiça e perguntava que dia era aquele... Sábado ou domingo? Na cena via três pessoas. Duas delas eram seus filhos, embora com fisionomia bem diferente da que eles realmente as possuem e a terceira pessoa, uma menina não identificada, porém no sonho era como se pertencesse à família. A idade aparentava ter, talvez o mais o velho nove anos e os outros oito e sete. Ao perguntar se era sábado ou domingo, pela segunda ou terceira vez, não havia resposta. Simplesmente olhavam-no incrédulas e não havia resposta de nenhum dos três presentes àquele sonho. Olá caro leitor
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Faça seus comentários... Abraços / I. Spínola

Saiu do centro da casa e se dirigiu aos fundos e viu que a maré estava cheia e as águas bem próximas de sua casa, talvez de oito a dez metros. As ondas eram leves, mansas, de um simples marulhar, empurrando e arrastando pequenos gravetos e folhas secas de beira de praia. Impressionado com a tão grande proximidade das águas, antes nunca vista, de sua casa, chamou por seu filho mais velho e ele não respondeu. Logo a seguir chamou pelo filho mais novo e, dessa vez, ouviu sua voz como que um pouco distante, quase imperceptível, como se estivesse, acreditava, a banhar-se de porta fechada. Chamou novamente o mais velho e continuou emudecido. Retornou a chamar o mais novo e novamente respondeu com um 'oi' em voz abafada vindo da direção do banheiro.
Acordou daquele sonho intranquilo que se assemelhava a um pesadelo, esboçou um sorriso e em seu pensamento pronunciou 'ah, apenas um sonho', mas ao se levantar tomou a iniciativa de emitir torpedos pelo celular a seus dois filhos e a alguns amigos expressando 'olás' agradáveis aos sentidos.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Músicas: Ouvir música na Rádio UOL
Músicas: Ouvir música na Rádio UOL: "– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Crônicas Acervo 008
Crônicas de junho de 2010
Olá caro leitor!
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02 (de 025 a 035), 03 (de 036 a 043)
e 04 (de 044 a 055).
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Abraços / I. Spínola
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Abraços / I. Spínola
Crônica 077
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias

As civilizações poderão variar conforme o clima, o ambiente, a alimentação, mas a cultura é, em todo o mundo, a mesma, a de ser compassivo, evitar o mal, ser generoso, não ser invejoso, perdoar e porque tanto aqui como algures o homem deseja a paz e a fartura.
O desejo de estar em segurança, de alcançar um fim cobiçado, faz surgir aceitação de dirigentes, o seguimento do exemplo, o culto do sucesso, a autoridade dos líderes, dos salvadores da pátria, dos mestres, dos sacerdotes, dos reverendos, dos bispos, dos pastores, dos gurus, sendo que tudo isso é apenas falta de reflexão, é simplesmente pura imitação.

Como o indivíduo se vê inseguro e cercado de impermanência, tem o desejo de procurar alguma coisa segura, duradoura, mas esse desejo é impulso do medo. Refugia-se no conhecido que são as crenças, os ritos, as fórmulas dos reverendos, as promessas de vida melhor e, às vezes descendo à busca de talismãs, amuletos, sinais fortuitos, pés-de-coelho e de outros expedientes menores e bem primitivos e essas coisas são conservadas como vivas de geração em geração.

E o que é aconselhável a mim e a você? Para subsistir, somos forçados a pensar, com um pensamento conforme opera em nossa vida de cada dia, em nossos contatos diários e reações conseqüentes.
Minha memória sob decodificação de dados, sua memória estudioso leitor, tradição, experiência, e, esta, ampla ou minúscula, e a reação a qualquer conhecimento adquirido por prática nova é produto do passado. A experiência está sempre a tornar forte o passado porque a mente é resultado do passado, do tempo. O pensamento é o produto de muitos dias passados. É isso mesmo? Você, que é aplicado ao estudo, aceita bem essas colocações aqui feitas? Veja bem, se estamos errados, o que nos falta é refletir ainda mais.
‘A astrologia é uma arte praticada há milhares de anos no Oriente. Conta-se que os antigos reis da Babilônia teriam feito uso dela para saber os dias mais propícios para as batalhas. Até os imperadores chineses recorriam aos astros para guiarem seus passos no governo. Com esse currículo respeitável, é inadmissível que ainda não a considerem uma ciência’.
Ledo engano. Trata-se de mais uma pseudociência. Adultos crêem em duendes e em bruxas pela mesma razão que crêem que o mundo está repleto de espíritos e forças que ajudam a arrumar o caos e tratam de invocá-los como podem. Essas crenças dos povos primitivos têm tanto fundamento quanto as tolices oferecidas pelos que andam por aí distribuindo dons sagrados como o dom de falar línguas e de receber o espírito santo como se vê hoje em algumas igrejas ditas evangélicas se contorcendo em nome desses dons.
Está-se-me tornando um pouco fatigante recorrer a essa argumentação... O homem gosta de matar, desde tempos remotos, seja uns aos outros, seja um inocente antílope, cobras e aves que estão a cantar alegremente no bosque, matar por esporte, matar para comer ou matar pela pátria, pela paz, matar com os meios de destruição cada vez mais diligentemente cultivados e reforçados com tecnologias de ponta. É isso aí gente!
Um pequeno pandeiro batia num ritmo alegre, e pouco depois um cavaquinho começou a acompanhá-lo. Os dois juntos enchiam os ares de sons. O pandeiro predominava, mas acompanhado do cavaquinho.
Quando o cavaquinho se calava, entrava o som da viola e a seguir o triângulo, mas o pandeiro prosseguia enérgico, sonoroso, até que de novo retornava o cavaquinho e a eles iam se juntando o agogô, o chocalho e o reco-reco numa sonoridade alegre num ritmo dançante. A alvorada ainda estava longe e os pássaros quietos, mas a música enchia o silêncio. Festejava-se um casamento na pequena vila.
Na véspera, um sábado, reinava muita alegria. Os cânticos e os risos se prolongavam até tarde da noite, e agora os convidados estavam sendo despertados por aquela música. Afinal, os ramos das árvores começaram a se desenhar contra o céu e o com início de seu alvor, as estrelas se apagavam e a música cessou. Estava amanhecendo. Começou-se a ouvir os gritos e as vozes de crianças. O sol despontava no horizonte e o dia começava a se firmar. Elas discutiam com muito barulho e, completamente absorvidas na sua zanga, não davam a mínima atenção a ninguém mais, nem ninguém lhes dava atenção nenhuma. Como todos os rituais, era estimulante, e aquelas mulheres estavam se confortando e isso devia ser um ritual diário.
Ali bem próximo uma velha ajudou uma mocinha a pôr na cabeça um jarro grande de barro. A adolescente tinha na cabeça uma rodilha de pano para dar sustentação ao jarro, o qual ela amparava levemente com as mãos. Outras mulheres chegavam e se iam com os vasos cheios de água, mas a discussão continuava acesa, dando-me a impressão de que nunca mais acabaria.
Entrementes, as três se calaram, encheram de água seus vasilhames e se foram com se nada tivesse acontecido, ou como se fosse um movimento final de um concerto com a batuta do maestro indicando que ali o concerto terminava. ‘Allegro maestoso’, acredito.
A estas horas o sol esquentava e a fumaça subia dos tetos das casas de palha da vila. Era hora de iniciar o preparo da refeição do dia. De repente tudo ficou tranqüilo. Depois de se acabar o bate-boca já se podia ouvir o vento balançando a copa das árvores.

Crônica 080
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Uma forte chuva começava nas primeiras horas da manhã com trovões e relâmpagos, e agora a chuva se intensificava arrastando terras e folhagens e a terra vermelha que era utilizada para cerâmica se empapava.Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Os animais de carga, jumentos, mulas e burros tinham-se abrigado debaixo de uma grande árvore que ficava perto de uma cancela e esta ao lado de uma estrebaria.
Alagamentos e deslizamentos obstruíam os precários caminhos que davam acesso às moradias, casa de taipa com piso de barro. Se algum muar ficava desabrigado poderia no caso de chuva demorada, morrer e, assim que sol brilhasse os urubus sobrevoavam e devoravam a carniça em avançado estado de putrefação. Essa ocorrência era habitual nas terras secas do município de Itaberaba, sertão baiano.
A luz do entardecer se espelhava nas águas e os vultos escuros das árvores se desenhavam contra o sol poente. Era o momento do ocaso do astro-rei. Passou uma marinete naquele instante, repleta de passageiros, indo para a cidade de Valença na Bahia. Já estávamos sentados à margem de um estreito rio, à beira d’água, num morno lajedo. A cidade fica um pouco mais adiante.
Na outra margem, sob uma árvore abundante em ramos, um garoto cantava suavemente. O sol descia atrás de nós e nossas sombras caíam sobre a água. Era um tranqüilo e belo entardecer com algumas nuvens alaranjadas e o rio se movia incessantemente.
Um bando de pássaros passou por ali e pousou perto da água, e minutos após, outros pássaros juntaram-se aos primeiros. O burburinho ficou por conta dos pássaros porque no mais era um completo silêncio.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Crônicas Acervo 007
Olá caro leitor!
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02 (de 025 a 035), 03 (de 036 a 043) e 04 (de 044 a 055).
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Agora você pode ver
as crônicas de maio a partir da de número 072.
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Crônica 072
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
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Crônica 072
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Conheci Souza na década de 70 e rapidamente me tornei seu amigo e confidente. Contou-me, de certa feita, de seus planos de constituir família e de que conhecera uma garota de vida campesina que lhe parecia interessante para casar-se. Num breve lapso de tempo, menos de doze meses, namorou, noivou e casou-se. ...
Rendido pela juventude, beleza e aparência de bom humor que a idade moça em geral confere às mulheres, casara-se com uma pessoa de compreensão limitada e de idéias confusas e grandemente limitadas. Pouco depois do casamento, esses defeitos haviam extinguido todo o afeiçoamento sincero que tinha por ela.
O respeito, a estima, a confiança tinham-se desbotado. E todos os seus anseios de felicidade doméstica foram aniquilados. Mas o senhor Souza não era desses homens que procuram se consolar das desilusões causadas por suas próprias faltas de antevidências entregando-se a esses prazeres em que os infelizes procuram uma compensação para suas loucuras e vícios.
Ele gostava de música, teatro e de boa leitura, suas principais ocupações de lazer na vida metropolitana da capital baiana. Quanto à sua esposa, pouco mais lhe devia do que os divertimentos que o espetáculo de sua postura insciente e de sua falta de sensibilidade lhe tinha proporcionado.
Essa não é a espécie de felicidade que os homens em geral desejam encontrar no casamento. Mas, na falta de outros dons, aquele que cultiva a filosofia se contentará com os poucos que lhe são dados.
Há muitos lugares... Naves, templos, músicas altissonantes, outras ululantes, lugares cativantes pela paisagem, pela arquitetura de linhas portentosas, outros por grutas, pequenas cachoeiras, baixadas entre montanhas para caminhadas solenes, vegetação exuberante com a beleza do lugar prendendo os simpatizantes, e mesmo com a rígida disciplina imposta pelos dirigentes da seita que veneram uma sabedoria morta, uma tradição igualmente morta e instrutor morto, todos os ministros ficam chocados com o afastamento do provável membro, este ameaçado de treva espiritual. É a treva!
Outros incentivam o retiro espiritual com meditações prescritas que levam o visitante a armadilhas como a de prender os discípulos a seus guias espirituais e assim pululam de crenças em crenças, em seitas, religiões com ligeiras variações entre elas. Todas querem prender e forçar a ajustar-nos a um dado padrão, ao modo de vida instituída pelo instrutor, o dono da verdade... Está ligado?
Nunca dão a liberdade, apenas prometem-na. E a submissão dá satisfação, garante ao discípulo o confere poder também ao instrutor. Fortalece-se a autoridade e leva todos a um estado de falta de energia e de enfraquecimento e a isso se chama de paz e a conseqüente anestesia da mente. Não é isso que comumente acontece, lúcido leitor?
A submissão à autoridade dos mortos ou dos vivos dá contentamento. O instrutor sabe e ambos prosperam na exploração mútua. Você vai para adorar e para ser confortado e a isso se dá o nome de busca da verdade, mas como gostamos de enganar a nós mesmos, existe a compulsão ou a promessa de recompensa sob variegadas formas.
Eu vou. Você vai. Nós vamos à busca de paz e o que se nos oferecem são compulsão, doutrinas confusas, contraditórias, vividas num contexto histórico diferente e bem distante, provindas de culturas díspares e de vãs promessas de galardão celestial. Se formos cegos, aceitamos todas as crendices que nos oferecem.
O médico doutor Sérgio fez, além de sua graduação normal, iridologia e abraçou a clínica de medicina natural na linha de Manuel Lezaetta que publicou o livro ‘Medicina natural ao alcance de todos’. Livro de cabeceira da maioria dos naturalistas.
Antes de conhecer o doutor Sérgio, servindo-me de uma consulta marcada em sua clínica e moradia no bairro Saboeiro, contíguo ao Cabula, em Salvador na Bahia, anos atrás, tinha eu constante mal-estar sem gravidade, a exemplo de torcicolos, dores de cabeça, enxaqueca, flatulência, má digestão, dores na coluna cervical, dores nas pernas, cálculo nos rins que a cada dois anos tinha de me dirigir à emergência do Hospital Jorge Valente, valendo-me do plano de saúde atendido ali. A consulta durou aproximadamente duas horas, sentados, quase agachados, eu e o médico, em macios almofadões. Consulta única. Não precisei retornar nem para uma revisão. Segui rigorosamente a orientação que me foi dada, adquiri o livro de Lezaetta e levei doze meses dentro daquele figurino que me foi presenteado.
Referindo-me às minhas bienais crises renais que me eram acometidas o médico e naturalista, no dia de minha consulta, informou-me de que eu ainda teria uma última crise renal num lapso de tempo de noventa dias. Sessenta dias após, e com a prática da alimentação e de procedimentos por ele recomendados, sem tomar remédio nenhum, ocorreu-me a predita e dolorosa crise renal, talvez a de maior sofrimento porque não pude dirigir o veículo e fui conduzido ao hospital. São passados trinta anos de vida frugal e nenhuma outra crise renal no ‘pindorama da vida’ e todos os achaques desapareceram.
Tornei-me numa pessoa de plena saúde. Dor de cabeça, tão comum às pessoas em geral, é expressão que não existe em meu glossário. Tive informação de que o médico, iridologista e terapeuta, doutor Sérgio foi residir na Chapada Diamantina, dedicando-se ao naturismo, saúde holística, no vale do Capão, Bahia.
Conheci Souza na década de 70 e rapidamente me tornei seu amigo e confidente. Contou-me, de certa feita, de seus planos de constituir família e de que conhecera uma garota de vida campesina que lhe parecia interessante para casar-se. Num breve lapso de tempo, menos de doze meses, namorou, noivou e casou-se.
...Rendido pela juventude, beleza e aparência de bom humor que a idade moça em geral confere às mulheres, casara-se com uma pessoa de compreensão limitada e de idéias confusas e grandemente limitadas.
Pouco depois do casamento, esses defeitos haviam extinguido todo o afeiçoamento sincero que tinha por ela. O respeito, a estima, a confiança tinham-se desbotado. E todos os seus anseios de felicidade doméstica foram aniquilados.
Mas o senhor Souza não era desses homens que procuram se consolar das desilusões causadas por suas próprias faltas de antevidências entregando-se a esses prazeres em que os infelizes procuram uma compensação para suas loucuras e vícios. Ele gostava de música, teatro e de boa leitura, suas principais ocupações de lazer na vida metropolitana da capital baiana.
Quanto à sua esposa, pouco mais lhe devia do que os divertimentos que o espetáculo de sua postura insciente e de sua falta de sensibilidade lhe tinha proporcionado. Essa não é a espécie de felicidade que os homens em geral desejam encontrar no casamento. Mas, na falta de outros dons, aquele que cultiva a filosofia se contentará com os poucos que lhe são dados.
Maria Helena Avena, boa amiga de tempos idos e vividos, lá na Rua Chile em Salvador, capital baiana, vividamente, recordo-me de quando ainda eu trabalhava na gerência do Banco Nacional da Bahia, ela, estudante na faculdade de letras, habitualmente, e por simples divertimento, empregava em seus colóquios, palavras esdrúxulas como se elas fossem oxítonas. A mais usual era 'interim'.
Quando ouvi pela primeira vez fiquei espantado, e em minha tentativa de corrigi-la, percebi meu ledo engano por não entender o estilo em que se usa o vocabulário de contentamento, e, de já, com seu sorriso, desfeito meu sobressalto ao perceber seu enunciado de pensamento por meio de gestos, e de palavras reinventadas, associadas às expressões de seu rosto e de sua cintilante alegria.
Ouça aqui Noel Rosa:
Conversa de botequim - Noel Rosa
Rendido pela juventude, beleza e aparência de bom humor que a idade moça em geral confere às mulheres, casara-se com uma pessoa de compreensão limitada e de idéias confusas e grandemente limitadas. Pouco depois do casamento, esses defeitos haviam extinguido todo o afeiçoamento sincero que tinha por ela.
O respeito, a estima, a confiança tinham-se desbotado. E todos os seus anseios de felicidade doméstica foram aniquilados. Mas o senhor Souza não era desses homens que procuram se consolar das desilusões causadas por suas próprias faltas de antevidências entregando-se a esses prazeres em que os infelizes procuram uma compensação para suas loucuras e vícios.
Ele gostava de música, teatro e de boa leitura, suas principais ocupações de lazer na vida metropolitana da capital baiana. Quanto à sua esposa, pouco mais lhe devia do que os divertimentos que o espetáculo de sua postura insciente e de sua falta de sensibilidade lhe tinha proporcionado.
Essa não é a espécie de felicidade que os homens em geral desejam encontrar no casamento. Mas, na falta de outros dons, aquele que cultiva a filosofia se contentará com os poucos que lhe são dados.
Crônica 073
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Quase todas as religiões esposam idéias expansionistas e cada uma delas se diz detentora de verdades. É freqüente o sacerdote, reverendo, bispo, guru, pastor, chefe espiritual ter alguma experiência e repetir frases que seus discípulos e seguidores entendem, sendo que uns falam frases em sânscrito, outros em grego, latim, invocam forças e falam línguas ininteligíveis com o fito de passar credibilidade a seus ouvintes simpatizantes, mas ficam horrorizados quando algum membro resolve deixar a comunidade, achando impossível que alguém pensasse deixar um guia espiritual tão sábio. E há lugares para todo gosto. Para todo tipo de carência. Já mencionei isso anteriormente.Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Há muitos lugares... Naves, templos, músicas altissonantes, outras ululantes, lugares cativantes pela paisagem, pela arquitetura de linhas portentosas, outros por grutas, pequenas cachoeiras, baixadas entre montanhas para caminhadas solenes, vegetação exuberante com a beleza do lugar prendendo os simpatizantes, e mesmo com a rígida disciplina imposta pelos dirigentes da seita que veneram uma sabedoria morta, uma tradição igualmente morta e instrutor morto, todos os ministros ficam chocados com o afastamento do provável membro, este ameaçado de treva espiritual. É a treva!
Outros incentivam o retiro espiritual com meditações prescritas que levam o visitante a armadilhas como a de prender os discípulos a seus guias espirituais e assim pululam de crenças em crenças, em seitas, religiões com ligeiras variações entre elas. Todas querem prender e forçar a ajustar-nos a um dado padrão, ao modo de vida instituída pelo instrutor, o dono da verdade... Está ligado?
Nunca dão a liberdade, apenas prometem-na. E a submissão dá satisfação, garante ao discípulo o confere poder também ao instrutor. Fortalece-se a autoridade e leva todos a um estado de falta de energia e de enfraquecimento e a isso se chama de paz e a conseqüente anestesia da mente. Não é isso que comumente acontece, lúcido leitor?
A submissão à autoridade dos mortos ou dos vivos dá contentamento. O instrutor sabe e ambos prosperam na exploração mútua. Você vai para adorar e para ser confortado e a isso se dá o nome de busca da verdade, mas como gostamos de enganar a nós mesmos, existe a compulsão ou a promessa de recompensa sob variegadas formas.
Eu vou. Você vai. Nós vamos à busca de paz e o que se nos oferecem são compulsão, doutrinas confusas, contraditórias, vividas num contexto histórico diferente e bem distante, provindas de culturas díspares e de vãs promessas de galardão celestial. Se formos cegos, aceitamos todas as crendices que nos oferecem.
O médico doutor Sérgio fez, além de sua graduação normal, iridologia e abraçou a clínica de medicina natural na linha de Manuel Lezaetta que publicou o livro ‘Medicina natural ao alcance de todos’. Livro de cabeceira da maioria dos naturalistas.
Antes de conhecer o doutor Sérgio, servindo-me de uma consulta marcada em sua clínica e moradia no bairro Saboeiro, contíguo ao Cabula, em Salvador na Bahia, anos atrás, tinha eu constante mal-estar sem gravidade, a exemplo de torcicolos, dores de cabeça, enxaqueca, flatulência, má digestão, dores na coluna cervical, dores nas pernas, cálculo nos rins que a cada dois anos tinha de me dirigir à emergência do Hospital Jorge Valente, valendo-me do plano de saúde atendido ali. A consulta durou aproximadamente duas horas, sentados, quase agachados, eu e o médico, em macios almofadões. Consulta única. Não precisei retornar nem para uma revisão. Segui rigorosamente a orientação que me foi dada, adquiri o livro de Lezaetta e levei doze meses dentro daquele figurino que me foi presenteado.
Referindo-me às minhas bienais crises renais que me eram acometidas o médico e naturalista, no dia de minha consulta, informou-me de que eu ainda teria uma última crise renal num lapso de tempo de noventa dias. Sessenta dias após, e com a prática da alimentação e de procedimentos por ele recomendados, sem tomar remédio nenhum, ocorreu-me a predita e dolorosa crise renal, talvez a de maior sofrimento porque não pude dirigir o veículo e fui conduzido ao hospital. São passados trinta anos de vida frugal e nenhuma outra crise renal no ‘pindorama da vida’ e todos os achaques desapareceram.
Tornei-me numa pessoa de plena saúde. Dor de cabeça, tão comum às pessoas em geral, é expressão que não existe em meu glossário. Tive informação de que o médico, iridologista e terapeuta, doutor Sérgio foi residir na Chapada Diamantina, dedicando-se ao naturismo, saúde holística, no vale do Capão, Bahia.
Conheci Souza na década de 70 e rapidamente me tornei seu amigo e confidente. Contou-me, de certa feita, de seus planos de constituir família e de que conhecera uma garota de vida campesina que lhe parecia interessante para casar-se. Num breve lapso de tempo, menos de doze meses, namorou, noivou e casou-se.
...Rendido pela juventude, beleza e aparência de bom humor que a idade moça em geral confere às mulheres, casara-se com uma pessoa de compreensão limitada e de idéias confusas e grandemente limitadas.
Pouco depois do casamento, esses defeitos haviam extinguido todo o afeiçoamento sincero que tinha por ela. O respeito, a estima, a confiança tinham-se desbotado. E todos os seus anseios de felicidade doméstica foram aniquilados.
Mas o senhor Souza não era desses homens que procuram se consolar das desilusões causadas por suas próprias faltas de antevidências entregando-se a esses prazeres em que os infelizes procuram uma compensação para suas loucuras e vícios. Ele gostava de música, teatro e de boa leitura, suas principais ocupações de lazer na vida metropolitana da capital baiana.
Quanto à sua esposa, pouco mais lhe devia do que os divertimentos que o espetáculo de sua postura insciente e de sua falta de sensibilidade lhe tinha proporcionado. Essa não é a espécie de felicidade que os homens em geral desejam encontrar no casamento. Mas, na falta de outros dons, aquele que cultiva a filosofia se contentará com os poucos que lhe são dados.
Crônica 076
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Maria Helena Avena, boa amiga de tempos idos e vividos, lá na Rua Chile em Salvador, capital baiana, vividamente, recordo-me de quando ainda eu trabalhava na gerência do Banco Nacional da Bahia, ela, estudante na faculdade de letras, habitualmente, e por simples divertimento, empregava em seus colóquios, palavras esdrúxulas como se elas fossem oxítonas. A mais usual era 'interim'.
Quando ouvi pela primeira vez fiquei espantado, e em minha tentativa de corrigi-la, percebi meu ledo engano por não entender o estilo em que se usa o vocabulário de contentamento, e, de já, com seu sorriso, desfeito meu sobressalto ao perceber seu enunciado de pensamento por meio de gestos, e de palavras reinventadas, associadas às expressões de seu rosto e de sua cintilante alegria.
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