segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Crônicas Acervo 001


Paisagem bucólica



Memórias Incontáveis

de Incontáveis Memórias




Este blog foi criado com a intenção de postar crônicas de eventos vivenciados por mim sob a mira de Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias. Aqui tecerei comentários sobre minha infância, vida escolar, iniciação na vida laboral, acertos e desacertos, crescimento e declínio e tudo respeitante à vida secular.


Nascente de um rio


Spínola - autor do blog

Crônica 001


Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias

Flor do Maracujá

Tenho interessantes lembranças de minha infância e até os dias de hoje para compartilhá-las com o caro leitor. Aqui passo a assinalar algumas delas. Nascido numa fazenda voltada para a agricultura eu ia às roças ver plantios de andu, feijão, mangalô, café, abóbora, maracujá, banana-da-terra, banana-maçã, da prata, nanica, são tomé, milho, alguns pés de cacau, melancia, chuchu, além de aipim, mandioca e cana-de-açúcar. Andu, mandioca, café, banana e cana-de-açúcar eram cultivados em grande extensão.


Plantação de mandioca


Maracujá silvestre



A venda era assegurada nas cidades de Laje, Amargosa, Itaberaba, Mutuípe e em São Miguel das Matas. A produção de bananas era de boa qualidade e parte dela vendida em Amargosa e Lage. Igualmente, muito boa a produção de farinha que exportada em tropas de animais de carga para Amargosa, Itaberaba e cidades vizinhas.

As estradas não tinham qualidades adequadas. Precárias em sua pavimentação, mas os animais de carga suportavam muito bem. A saída da tropa ocorria usualmente nas madrugadas entre às 3 e 4 horas com o céu muito lindo e recoberto de estrelas.

Durante esse percurso ouvia-se música de milhares de grilos, insetos comuns no recôncavo e sudoeste baiano, e, em lugares encharcados com córregos e riachos podia-se ouvir o canto de sapos.

Sapo cururu

A cavalo, montados em burros, mulas e jegues podíamos ouvir os variegados tons dos cânticos de sapos cururus, anfíbios que na fase adulta têm costumes terrestres.
A viagem não era cansativa, feita num ritmo lento, muito cuidado com os animais, era distante da sede da fazenda variando entre 8 e 12 léguas. De três a 5 pessoas conduziam a tropa de animais, tendo ali meu pai, e mais 3 ou 4 acompanhantes e eu, numa viagem de pouca conversa, de muita atenção às trilhas e para mim, muito contemplativa, de grande enlevo e arrebatamento de espírito, ora pelos sons de insetos, pelo burburinho de pequenos animais assustados com nossa passagem e ora pelo trinar de aves noturnas, trilos de animais não conhecidos.
Mulas

Uma trilha já bem conhecida de todos os caminhantes, mas merecia cuidados, principalmente em subida de ladeiras e de quando ocorriam chuvas porque ficava muito escorregadia.

Em certos trechos exigia-se que as pessoas desmontassem dos animais a fim de que a carga ficasse mais leve, diminuindo, assim o peso da carga do animal. Depois de 3 a 4 horas chegava-se ao destino lá pelas 7 ou 8 horas da manhã, já com o sol a ostentar seu brilho matinal.
Estrebaria

Com acarga de bananas, ia-se diretamente para a praça da feira da cidade e ali se descarregava o produto a ser vendido no varejo, estendendo-se próximo ao meio-dia. Os animais, puxados para a estrebaria, descansavam, comiam e bebiam.
Animais no curral


Quanto a mim, fazia um pequeno lanche, quase defronte do local do desmonte da carga. Bebia café com leite acompanhado de pão de milho com manteiga e requeijão. Era um pão de bom sabor, somente visto nessas viagens. Retornávamos levando para casa alguns mantimentos como arroz, carne-do-sol, carne-do-sertão e agradáveis caramelos de uva, diferentes tipos de pães, manteiga e gostoso requeijão.

Prato de carne-do-sol


Requeijão de corte



Crônica 002
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias



Minhas idas iniciais à escola eram bem divertidas. Já com seis anos de idade, acompanhava meu irmão mais velho de quase oito anos. No momento da saída esperávamos outros colegas que vinham de lugares mais distantes e nos juntavam a um grupo de mais de dez e assim íamos e retornávamos sempre juntos, nós dessas bandas de cá da Fazenda Outeiro e de áreas limítrofes.

Por vezes o grupo de colegas era menor pelos desencontros. Minha saída a esses encontros era inicialmente descendo um pequeno declive, passando ao lado de duas mangueiras frondosas e de arbustos como umbaúbas, quaranas, mamonas, e


fedegosos floridos em amarelo até chegar à cancela de passagem para a Fazenda Cajazeira, limítrofe da Fazenda Outeiro, local de minha moradia.






Depois dessa cancela eu trilhava boa extensão em terra plana até encontrar a primeira ladeira, esta bem larga, muito irregular pela erosão de chuvas e de um barro bem vermelho que era utilizado no fabrico de vasos cerâmicos como tijelas, panelas, gamelas, potes, pequenos vasilhames domésticos, caxixis e porrões de água.


Quando o tempo era chuvoso ficava muito escorregadia propiciando hilariantes tatus (um tipo de queda que se escorregava e batia a bunda no chão), e, para não sujar os tamancos tínhamos de ir a pé e com eles sujos de barro eu os limpava logo ao ultrapassar a segunda cancela, ao lado de um riacho de água límpida, corrente, nas sombras de cajazeiras e tamarindeiros. Próximo a essa segunda cancela tomei uma queda assustadora que a mencionarei adiante.
Ultrapassei essa cancela e entrei numa grande extensão de pasto de gado bovino manso, ressalvando-se algumas situações difíceis ao me deparar com touro brabo ou com vacas paridas que costumavam molestar os transeuntes.


Certo dia, ao retornar da escola, perto dessa cancela, um touro brabo correu em minha direção, e eu espavorido, subi num cajueiro, após eu ter pulado uma cerca de arame farpado. Cheio de medo desequilibrei-me e caí tendo ficado por alguns minutos sem voz, mas livre das chifradas do touro.


Esse percurso era, quase em sua totalidade, de capim e árvores esparsas para fazer sombra ao gado. De um lado havia um declive numa extensão de mais ou menos uns quinhentos metros até um pequeno brejo e de um suave córrego. Foi desse brejo que o touro partiu ladeira acima para cima de mim, isso quando do retorno da escola, próximo ao meio-dia.



Do lado direito o terreno era de um aclive moderado com parte cercada indo na direção oeste. Segui em frente e logo após quebrei à esquerda avistando ao longe o prédio escolar. Nesse dia perdi meu par de tamancos novinho em folha. Nesse momento eu estava numa parte bem elevada onde se podia ver mais à esquerda a casa do engenheiro agrônomo administrador da Fazenda Cajazeira. Descendo um pouco mais eu passava por uma bica que trazia água potável de longínquo nascedouro. Eu costuma levar um bom tempo contemplando o correr da água naquela bica tão extensa.



Nesse trecho era comum encontrar cabritos, carneiros, ovelhas numa paisagem campestre de incomparável beleza. Lembro-me de que em dias de lazer, aos sábados ou aos domingos, habitualmente eu me divertia com o bom colega e amigo de infância Evandro, filho do dono da fazenda Cajazeira, pelos campos e montanhas montados em robustos carneiros peludos. Eram corridas eletrizantes numa aventura inesquecível. Bom demais.

Bem perto da escola, descendo uma colina e passando numa baixada, a seguir pequena subida, finalmente, minha chegada à escola que ficava localizada na sede da Fazenda Cajazeira repleta de diversas edificações.


A sede da fazenda se compunha de edificações para a guarda de cana-de-açúcar cortada, giraus, um grande alambique que produzia álcool e cachaça. Mais acima ficava o prédio escolar e a moradia do Sr Elpídio, proprietário da Fazenda Cajazeira.


A casa era do tipo sobrado de arquitetura colonial, extenso peitoril, toda ela com piso tabuado, móveis coloniais de rara beleza torneados, em jacarandá-da-bahia. Cômodas, marquesas, bancos, poltronas, tamboretes, grandes mesas, estantes e todos em jacarandá. Um grande salão ao lado da sala-de-estar era destinado a eventuais missas com oratório e ornamentos estilo rococó, imagens barrocas de santos da igreja católica, além de castiçais e paramentos para o vigário visitante.




Defronte da escola uma grande área servia de lazer para a hora do recreio com cantigas de roda, brincadeiras infantis e boa sombra das gigantes cajazeiras ali existentes. Muitas flores do tipo balança-cacho, jasmins e manacás liláses exalando seu perfume.

jasmim

Manacá


Crônica 003
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Dentre meus colegas de infância era Evandro, também entre 6 e 7 anos, com quem eu mantinha melhor afinidade e foi com ele que me divertia em passeios pelas mangas montados em fortes carneiros subindo e descendo colinas, vento forte a coroar os surpreendentes percursos. Um barato!


O espoucar de trovões na sede da fazenda Outeiro se constituía para mim um evento impressionante, principalmente à noite. Como não havia luz elétrica, a paisagem era muita escura como breu, e, ao relampejar víamos toda a paisagem iluminada e a seguir novamente a escuridão noturna. Éramos nessa época seis irmãos. Ficávamos juntos e extasiados com o trovejar, os relâmpagos, coriscos, sucessivos e durante um longo tempo. Chuva torrencial sempre acompanhada de fortes ventos nos propiciava ouvir o farfalhar das árvores.



Havia noites não chuvosas e sem trovões com miríades de vagalumes num pisca-pisca incessante iluminando de modo inusitado, deixando-me inebriado com aquele espetáculo indizível de luzes, por longas horas de observação, na área avarandada protegida com extenso peitoril nas casas geminadas para congregar a família de meus pais e na outra a de meus avós.

Crônica 004

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Por desconhecerem conceitos de psicologia infantil era habitual à noite, reunidos na varanda, minha avó paterna contar estórias bíblicas, outras da carochinha e ainda outras de visagens e de assombrações a exemplo da de um certo menino chamado de joãozinho que por ter desobedecido os pais dele ficou a fazer aparições em forma de vento forte, e, assim, arrancava árvores, arbustos, rolava samambaias pelas casas em presença sobrenatural, jogava materiais sujos nas panelas de cozinha e, desse modo, deixava as pessoas atônitas.

Um outro caso que me era contado o de um pássaro noturno de um canto triste, dolente, imitativo da palavra cavala, com a explicação de minha avó de que teria sido um menino que xingara a mão dele de cavala e assim se transformou nesse pássaro que cantava durante as noites cavala, cavala, cavala.


As histórias de visagens eram as mais assustadoras e aterradoras provenientes de causa inexplicável como de um fantasma em imagem ilusória e levava a criança a crer como reais. Supostos aparecimentos de defuntos ou de alma penada, uma alma de outro mundo, mal-assombrada, papagente, sombra, visagem numa fantasmagoria de fazer ver figuras luminosas na escuridão.

Crônica 005

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A sede da fazenda se situava numa colina defronte ao sol nascente tendo do lado esquerdo do prédio, bem próximo, talvez de um quilômetro, a cerca que separava esta da Fazenda Cajazeira. Do lado direito estava a entrada e saída principal de visitantes, um caminho que margeava os outros prédios de depósito de materiais, dois giraus, um depósito com dois pavimentos e uma pocilga. Essa saída era a que permitia nos levar a quatro pontos diferentes da fazenda.

O primeiro ponto, defronte da sede, dava para se avistar ao longe a moradia de Sinha Francisca (era assim o tratamento: Sinha. Não confundir com o de Sinhá) casa que congregava numerosos parentes todos descendentes de negros. Uma filha de Sinha Francisca foi minha ama-de-leite e igualmente de alguns de meus irmãos.


Todos fomos usuários por longo tempo de leite materno. Como minha mãe de ano em ano tinha um novo filho, ela recorria a essas negras peitudas e de farto leite para dar prosseguimento à amamentação até aos três anos de idade.

Não tão defronte, indo mais à direita ficava a morada de Seu Santos, família numerosa, também de negros, eram todos evangélicos.


Rumando por outro caminho, o terceiro, ficava a casa de Seu Camilo, também numerosa, de pele cor clara, possivelmente descendentes de tribos indígenas, pela aparência, porque sem pelos e de baixa estatura, não sei o certo.

Indo mais à direita o quarto caminho levava à casa de Dão e de seus parentes, uma pequena comunidade de agregados, todos negros trabalhadores de boa cepa como também dos demais e em sistema meeiro.

Bem próximo da sede, mais ou menos uns trezentos metros, após um descida, a caixa d'água potável de ressuprimento doméstico. Era trazida em latas de querosene de 20 litros ou em barris levados por mulas. O armazenamento era feito em grandes vasilhames de barro. Eram porrões de 100 litros de água, de boca bojuda e fundo estreito. Havia dois deles na ampla cozinha. Essa água era a que se bebia e cozinhava.

Crônica 006
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Aos fundos, um grande cafezal e dentro dele muitos cajueiros, araçazeiros, pés de jabuticaba, tomates-mirins, araçás-mirins. Em todo final de ano, por ocasião do Natal, fartura de castanha-de-caju assada. Laranjeiras, jaqueiras, bananeiras, embora a maior concentração fosse na região denominada de baixão que se ia pelo segundo caminho, local este de abundante mata atlântica. Ali se bebia água de um nascedouro de água limpa, fria e cristalina. Era o sopé de uma montanha e que se alongava na direção nordeste até à divisa de um outra fazenda.


Cafezal

Crônica 007

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Aos sábados eu ia à cidade do município, dia de feira onde na praça e rua principal vendem-se e compram-se mercadorias da agricultura local e de municípios vizinhos, a saber: abóboras, melancias, bananas, jacas, melões, também carnes bovina, suína, caprina, aves abatidas, teiús, pacas, preás, alguns biscuits de porcelana, caxixis e sugestões de objetos para presentes.


Eu vendia flores. Eram angélicas de um plantio que fiz aos fundos de minha casa na Fazenda Outeiro, estimulado por minha mãe. Com o dinheiro eu comprava pães-de-milho e cortes de tecidos para que minha mãe costurasse calças e camisas novas para mim.


Nesse trajeto de ida à cidade, em dias de feira, ia, por vezes montado em uma mula adestrada e noutras ocasiões era a pé mesmo. A distância aproximada era de três léguas tanto para ir como para vir. Durante esse trajeto costumava avistar, atravessando em meu caminho, animais que me causavam pequenos sustos a exemplo de teiús, grandes calangos coloridos com a cor verde dominante, lagartixas, preás, raposas e gatos-do-mato.




Raposa na espreita

Ainda em Laje, em dias de feira, eu visitava lanchonetes, lojas de tecidos, armazens de farinha de mandioca, local onde meu pai costumava vender farinha trazida em tropas de burros. Ia a lojas de tecidos e a armarinhos comprar aviamentos encomendados por minha mãe. Descansava e almoçava na pensão do lajista Seu Agostinho, local bem próximo à estação ferroviária.


Aqui, você, caro leitor, pode vislumbrar quatro fotos de Laje:






Crônica 008

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A entrada à cidade de Laje era muito bonita. Uma paisagem visual impressionante para mim àquela época. Do lado direito o Rio Jequiriçá de águas escuras rasgava toda a cidade de uma grande rua, talvez, naquele tempo, uma cidade de rua única. Era essa a impressão que me causava.



Um alto e extenso pontilhão propiciava uma vista extremamente fantástica, principalmente quando vinha a locomitiva cantando celeremente "café-com-pão, manteiga não", repetidamente "café-com-pão, manteiga não!", e, nesse momento eu ficava parado, em êstase, a contemplar a beleza do trem rolando nos trilhos do pontilhão, como se estivesse alado, embora com um ruído estonteante, e, assim, arrastava mais ou menos uns dez vagões que transportava pessoas e mercadorias vindas de Jequié, Jaguaquara, Santa Inês, Jequiriçá e subia indo até São Roque, porto de transbordo para Salvador, capital da Bahia. Ali se pegava um grande navio para ir à capital baiana.


Crônica 009

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Com meus avós morava minha tia Vivina e uma filha adotiva, Abigail. Tia Vivina ficava todo o tempo acamada em razão de uma incurável, àquela época, asma. Nunca a vi de pé. Ao lado de sua cama uma escarradeira de ágata ali colocada para suas constantes crises de tosse convulsa.

Caixa dágua

A filha de criação Abigail, mameluca de boa estatura, seios bem formados, bunda proeminente, costumava receber presentes de perfumes, pó-de-arroz, espelhos pequenos e de sabonetes eucalol em suas idas à caixa d'água, possivelmente por galanteadores de passagem, andarilhos habituais que por ali trilhavam.




Abigail tinha uma amiga, Helenita, corpo de manequim, magrinha, morena clara, pele brilhante e bronzeada pelo sol das caminhadas pelas campinas. Quando estavam juntas em confabulações normais de moças quentes e alvoroçadas, convidavam-me para brincadeiras e dentre elas a de mãe-e-filho.


Retirava os seios para que eu, naquelo momento um filho, beijasse os mamilos durinhos que ela me mostrava, apalpava e me exibia ostensivamente. Mamei por diversas vezes. O sentimento era o de, tão simplesmente desempenhar o papel de filho, como em qualquer brincadeira entre crianças.



Crônica 010



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Laje é um município brasileiro do estado da Bahia, estando a uma altitude de 190 metros. Sua população estimada em 2004 era de 20.259 habitantes. Possui uma área de 499,422 km². Uma mesma família dominou a política por mais de cinqüenta anos no século vinte. Distante 226 km de Salvador.

De acordo com a tradição popular, uma enchente, desviando o curso do rio Jiquiriçá, provocou uma enorme destruição de um povoamento localizado à margem direita. Após o fato, os habitantes do local edificaram uma capela em louvor a Nossa Senhora das Dores em um ponto à margem esquerda e abaixo da cachoeira do Estouro, ficando protegidos de surpresas e rigores das enchentes periódicas.


Por conta da existência de enormes lajedos, nas proximidades, o povoado foi denominado de Nova Laje. Município criado com o território do distrito de Nova Laje, desmembrado de Aratuípe e recebendo a denominação de Vila de Laje, por Lei Estadual de 20.07.1905. A sede foi elevada à categoria de cidade através Decreto Lei Estadual de 30.03.1938.



A economia de Laje é basicamente agrícola, com produção expressiva de produtos derivados da mandioca. Sua pecuária diversificada, conta com criações de bovinos, suínos, asininos e muares. Sua rede hoteleira possui 44 leitos. Segundo dados da SEI/IBGE, o PIB do município para 2003 foi de R$ 48.647.352,00 e a estrutura setorial está distribuída da seguinte forma: 36,03% para agropecuária, 5,26% para indústria e 58,71% para serviços.



Municípios limítrofes de Laje: Mutuípe, Ubaíra, Santo Antonio de Jesus, Aratuípe, Amargosa, Valença, Jiquiriçá e São Miguel das Matas.



Com letra de João Batista dos Santos, música de Miro e Uberlúcio, você tem aqui o hino em louvor a Laje:



Doravante, confiantes
Vamos todos os filhos desta terra

Erguer mais alto a nossa bandeira
E amando-a de coração

Gritar o nosso amor com gritos fortes

E com braços fortes abraçar nossos irmãos.

Laje, Laje, Laje terra do meu coração.

São teus montes, tuas matas
Dádivas da natureza

São teus rios e cascatas

Prova de eterna grandeza


Teus campos verdes

Tuas lindas flores

São dois amores que enriquecem sua beleza





Crônica 011
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Na casa de farinha, uma grande edificação que abrangia forno com alguidar para torrefação de farinha, costumeiramente chamada de farinha-de-nazaré porque uma cidade que ficava no percurso da estrada de ferro era a grande produtora de farinha de mandioca nos idos da década de 40 e de 50, talvez até a de 60. Ali na casa de farinha havia a moenda puxada a touro e às vezes por burro para ralar mandiocas.



Grandes coxos de madeira aparavam a massa prensada que pela decantação separava a farinha da tapíoca. Além da produção de farinha, vendida nas cidades vizinhas, produzia-se beijus de farinha de mandioca e de tapioca.


As raízes da mandioca destacam-se como fonte de energia, que é o componente quantitativamente mais importante das rações alimentícias para diferentes espécies de animais. Apresentam quantidades mínimas de proteína, vitaminas, minerais e fibra e são bem aceitas pelos animais.





A desidratação é um processo importante para conservar a qualidade das raízes depois de colhidas, facilita seu uso na composição de alimentos, eleva a concentração de nutrientes e facilita a conservação dos alimentos, além de ser um dos métodos mais eficientes na redução da toxicidade.



O processo de produção consiste basicamente, logo após a colheita, no corte das raízes e exposição ao sol. A produção de raspa deve ocorrer no período adequado à colheita, quando as condições climáticas são favoráveis como uma boa insolação, alta temperatura e baixa umidade relativa.







Durante as tarefas de retirar as cascas das raízes de mandioca, a raspa, mulheres operárias, durante a jornada, aliviando o cansaço, passavam o tempo em cantorias com modinhas de canto e contracanto em solos e coros, como por exemplo, o que assinalo aqui:




Primeiro de janeiro
Deixa a noite clariá

Primeiro de janeiro

Deixa a noite clariá

Hoje nós vadeia

Até o sol virá
Nós vadeia
Nós vadeia

Até o sol virá.

Era o estribilho, e a seguir, solos mais ou menos assim, e retorno ao estribilho:

Cravo branco na janela
É sinal de casamento

Menina tira teu cravo
que
inda não chegou teu tempo.

Novamente o estribilho... Novo verso:

Lampião tava dormindo
Acordou todo assustado

Deu um tiro com a baraúna

Pensando que era um soldado.

Novo verso:

Esta casa é bonita
Por dentro e por fora não

Por dentro cravos e rosas

Por fora manjericão.

E assim por diante sempre ao retorno do estribilho.



Crônica 012

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Eu sou o terceiro filho na cronologia de 9 irmãos. O segundo, uma menina, Ivonilde, morreu aos três anos de idade. Minha mãe contou-me, de que eu presenciei aquele momento no qual minha irmã foi colocada no caixão, dia do enterro.


Tinha eu pouco mais de 2 anos de idade e ao ver abrir um caixão de abelhas, algum tempo depois, para retirar mel (era cultivado por meu pai e havia quase uma dezena de caixotes com abelhas para o cultivo do mel), naquele instante eu esperava ver minha irmã que houvera sido colocada tempo atrás no caixão e, inquiridor, perguntei a meu pai:


- E ela? Cadê? Queria saber da presença de minha irmã falecida.









Crônica 013

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Havia um peregrino, Lucídio, que habitualmente pedia pousada a meus pais para descansar. Fazia refeições e passava ali uma noite, prosseguindo sua viagem logo cedo, pela manhã. Costumava contar estórias e enigmas, estes, numa descrição difícil para a decifração.



Lembro-me de um que aprendi e passei, por diversas vezes, a outras pessoas. Tente, curioso leitor, decifrá-lo agora mesmo com sua exemplar sapiência:



"Gurupé de um pé
Estava em cima de
Gurupé de três pés


Chegou gurupé de quatro pés
Comeu gurupé de um pé
Em cima de gurupé de três pés".


Era solicitada a descoberta num ritmo muito rápido e, repetidamente para confundir o ouvinte. Perguntava-se duas três vezes, com o mesmo texto e quase cantarolando.


Então... Conseguiu decifrar o enigma?
Se não, veja aqui o significado:


Gurupé de um pé: uma panela.
Gurupé de três pés: a panela em cima de um tripé, tipo fogareiro, para cozinhar comida.

Gurupé de quatro pés: Um cachorro que comeu a panela (a comida) que se encontrava no tripé.






Crônica 014

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A copa do mundo de futebol, ganha em 1958 pelo Brasil, ostentava os craques capitão Bellini, Vavá dentre outros. A Copa do Mundo de 1958 foi a sexta Copa do Mundo disputada, e contou com a participação de 16 países. 51 países participaram das eliminatórias.




Um torneio marcante em muitos aspectos, a Copa da Suécia viu entre outras coisas a estréia de Pelé, treze gols marcados pelo artilheiro francês Just Fontaine, e a primeira conquista do Brasil, o que representa a primeira e única vez que um time sulamericano levantou a taça em solo europeu. Os grandes favoritos ao título eram ingleses, soviéticos, franceses e alemães.



O Brasil, depois do vice em 1950 e da fraca campanha em 1954 era visto com desconfianças. A Hungria, de protagonista em 54 chegava como mera coadjuvante em 58, sendo que sem os seus principais craques, a equipe pouco pôde fazer na copa.


Ouvi a narração de jogos servindo-me da gentileza de Milton Queiroz, lojista que residia na Av Sete de Setembro em Santo Antônio, lá em meus idos de 17 anos de idade, que me convidou para ouvir pelo seu enorme rádio alimentado por bateria de veículo de automóveis.


Ouvia-se muito mal. Um ruído irritante, mas não menos emocionante pois me causava alegria e boas sensações em razão da presença de craques vascaínos (naquela época eu manifestava um pouco de interesse pelo Vasco, influenciado pelo colega ginasial Wellington). Hoje, time de coração é o Esporte Clube Vitória, atualmente tricampeão baiano (estou em 2009), detentor da hegemonia dos esportes na Bahia.



Ao ouvir o goal de Pelé contra o País de Gales, fiquei surpreendido visto que nunca ouvira falar dele. E o som ia e vinha num balouçar, numa onda que subia e baixava incessantemente, mas deu para eu ouvir “gol, gol, gol de pelê, pelê, veja bem, não era pelê”...


-Quem é esse, indaguei.


-É um jogador novo, o Pelé.


-De que time? -continuei indagando.
-Não sei... Foi a resposta que obtive naquele instante.

Sabemos que Pelé é o nosso Rei. O Rei Pelé!


Esse evento oportuniza-me remontar à época de, na Fazenda Outeiro, por ocasião de meus sete anos ouvir rádio pela primeira vez.
Ah! Foi uma experiência curiosíssima, na fazenda vizinha, do lado esquerdo, parte sudoeste, de Seu Tiago, que cultivava cana-de-açúcar e dispunha de um engenho com grandes fornos para fazer melaço, rapadura e açúcar.




O rádio emitia ondas sonoras igualmente em ondas que vinham e desapareciam em altos e baixos sons numa incomprensível mensagem de novela e de propagandas e, foi com propaganda que tinha o canto de um galo, que ficou em minha memória até os dias de hoje.

Seu Tiago e sua enorme família, parentes e aderentes eram todos evangélicos batistas e aos domingos reuniam-se numa pequena igreja para os cultos dominicais, ao lado da sede de sua fazenda. Eram amigos de minha família.





Crônica 015
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias



Tinha eu nove anos de idade quando meu pai vendeu a Fazenda Outeiro, arrumou as trouxas e rumou-se para a cidade de Santo Antônio de Jesus, isso em 1949.

A partir daí a pobreza e a tristeza bateram à nossa porta. Ficamos pobres, quase sempre com fome, sem moradia fixa, de aluguel pelo menos em seis casas, mudando de casa em casa e de rua em rua afora buscando preços menores para honrar os compromissos assumidos com altivez que era uma das virtudes mais acentuadas de minha destemida progenitora. Éramos, eu e irmãos, conhecidos como “os filhos de Dona Edite”.


Para livrar-me da pobreza iniciei trabalhar aos 10 quase 11 anos de idade como auxiliar, no turno vespertino, de balcão de vendas de tecidos na Loja Bahia. No turno matutino eu ia para a escola Félix Gaspar. Passei, depois de um período de estágio, para ver se eu tinha jeito para a coisa de vender tecidos, a ganhar alguns trocados de oito em oito dias, sempre aos sábados, dias de maior movimento de vendas na loja. Esse dinheiro servia para comprar pães e os do tipo sonho e outros mantimentos para minha mãe.



Meu pai rapidamente se quebrou como fabricante de caramelos. Péssima opção que ele abraçou após a venda da fazenda. Instalou um pequeno fabrico na Rua Ruy Barbosa em Santo Antônio. Não obteve o resultado esperado. Foi um desastre total. Prejuízo pleno.



Um ano depois ele encontrou um emprego de fiscal de obra de terraplenagem, não sei em que empresa. Também não deu certo. Viajava e demorava em retornar. Até que certo dia não mais voltou. Abandonou minha mãe e filhos.

Ela, sozinha com 8 filhos para criar. O mais velho com quase treze anos e eu com 11 e, os outros menores com 9, 8, 7, 6, 5 e a caçula de 4 anos. Foi um período de muito sofrimento, por isso iniciei a trabalhar desde cedo e os menores à medida que o tempo passava iam igualmente se dedicar em trabalhos de balconistas de lojas de tecidos ou em armarinhos.


Minha mãe trabalhava em casa com uma antiga máquina de costura, habitualmente camisas masculinas que eram vendidas na Loja Bahia de Seu Sinésio, a pobres agricultores, matutos humildes da vida campestre do município de Santo Antônio de Jesus.




Crônica 016

Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias




Santo Antônio de Jesus é um município brasileiro do estado da Bahia. Sua população em 2009, segundo a contagem do IBGE era de 88.768 habitantes. Tem importância como centro comercial e de serviços de sua microrregião. Sendo assim conhecida como a "capital do recôncavo". Anualmente sedia movimentadas festas juninas, que atraem turistas e ex-moradores.

Ex-casa de detenção, atualmente o Centro Cultural

O habitante de Santo Antônio de Jesus é conhecido popularmente como papa-jaca, como alusão às muitas jaqueiras existentes no município.


As primeiras expedições no território deste município resultaram da colonização na área do rio Jaguaripe, realizadas nos séculos XVI e XVII. Foram fatores decisivos, no povoamento destas paragens, as férteis matas com madeiras de lei e grande número de cursos d'água, atraindo plantadores de cana-de-açúcar e o estabelecimento de engenhos, além da plantação da mandioca. O primeiro povoado surgiu em torno de um oratório consagrado a Santo Antônio de Jesus, nas proximidades do rio Sururu.


No princípio, apenas descendentes dos índios de Pedra Branca, vivendo de caça, pesca e pequenos roçados. Atraídos pela excelência das matas e fertilidade das terras, foram chegando os primeiros colonos. A esse tempo já havia sido recomendada, à relação da Bahia, proteção aos indígenas e, por carta régia datada 1663, determinada reserva de uma légua quadrada de terras, para aldeiamento e "sustento dos silvícolas". Dentre os que obtiveram patrimônio territoriais, constam os índios da Aldeia de Santo Antônio de Jesus.



De quantas sesmarias se conhecem, tudo leva a crer que foi concedida a Antônio de Souza Andrade e João Borges de Escobar, em 1644, a mais antiga e a que mais se ajusta aos limites atuais do Município de Santo Antônio de Jesus, embora não abranja de todo. Relevante foi a atuação dos Padres Mateus Vieira de Azevedo, José Ferreira e Bento Pereira, coadjuvados por Manoel dos Santos Carvalho e Luiz Vieira de Brito, na história da colonização.



A residência do Padre Mateus Vieira de Azevedo foi transformada no primeiro Povoado, graças a ereção ali de um oratório sob a invocação de Santo Antônio de Jesus. Por provisão datada de 23 de setembro de 1777 o oratório transformou-se em Capela, filiada a freguesia de Nossa Senhora de Nazaré, em cujas roças estava situada.

O distrito de Santo Antônio de Jesus, foi criado pela Lei Providencial n.448 de 19 de junho de 1852, e o município de um único Distrito, desmembrado de Município de Nazaré pala lei n.1952, de 29 de maio 1880. Sua instalação ocorreu a 14 março de 1883. Por Lei de 15 de outubro de 1827, criou-se o Distrito de Paz. Termo Judiciário da Comarca de Nazaré, até 31 de dezembro 1943, quando foi criada a comarca de Santo Antônio de Jesus.

Delimita-se pelos Municípios de Varzedo, Conceição do Almeida, Aratuípe, Laje, Muniz Ferreira, Dom Macedo Costa, Elízio Medrado e São Miguel das Matas, Santo Antônio de Jesus é banhada pelos Rios: Taitinga, Sururu, Jequitibá e Rio da Dona. Terras quase planas, clima temperado, variando a temperatura com mínima de 17 e máxima de 36 graus centígrados com freqüentes chuvas nos meses de abril e Agosto.


Santo Antônio de Jesus é a cidade-natal do lateral-esquerdo Júnior, campeão do mundo em 2002 pela Seleção Brasileira de Futebol, do cantor de axé Netinho, canhoto do violão músico cavaco e violão e do ator Luís Miranda atualmente atuando na Rede Globo e do ex-interventor federal na Bahia e ex-senador da República Landulfo Alves de Almeida.


Foto no coreto da Praça 15 de novembro


Foto no coreto com meu irmão Walter



Crônica 017

Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias



Trabalhei
na Loja Bahia até aos dezessete anos, época em que concluí meu curso ginasial e fui residir, com a cara e a coragem em Salvador, capital do Estado da Bahia. Cara e coragem, sem conhecer a cidade sem ter amigos ainda, ali fui para a casa de um parente de César, colega de ginásio, lá no bairro Pero Vaz. A casa era tão pequena que na hora de dormir, tinha-se de, antes fechar a porta a fim de permitir colocar um colchonete colado à porta de entrada. Foram poucos dias, menos de um mês. Foram gentis comigo. Sou plenamente gratos pela acolhida que me foi estendida. Não me conheciam e me abrigaram para dormir.


Nesse ínterim consegui emprego, não registrado, na Casa de Ferragens Raymundo Correia que ficava na Cidade Baixa, perto da Praça Cairu e do Elevador Lacerda. A indicação para esse emprego coube a um santantoniense que morava em Itapoã e ali era lojista na venda de tecidos. Também Loja Bahia. Era Seu Bessa, cunhado do dono da Loja Bahia de Santo Antônio. Esse meu trabalho era muito cansativo e sujo porque o ambiente era empoeirado, mal cuidado, de rara limpeza e, ademais a apanha de peças, parafusos para a indústria naval e de outros materiais, era feita sem luvas, todos os materiais protegidos por graxa ,e a sujeira era como a de uma oficina mecânica com roupas e mãos sujas.



Esse período foi de, aproximadamente, um ano difícil assim na alimentação como em vestuário. Eu comprava roupa usada e sapatos furados para fazer meia-sola.

Em novembro de 1959 fiz um teste para ingressar no quadro de funcionários do Banco da Bahia, o maior banco baiano naquela época, controlado pela família Mariani e fui muito bem sucedido. Logo a seguir a ansiedade pela bateria de exames, procedimentos novos para mim que nunca houvera feito exames clínicos e de análise de materiais em laboratórios. Uma novidade fazer exame de urina, fezes, sangue. Tudo saiu a contento e nos primeiros dias de dezembro estava iniciando minha lide bancária de aproximadamente 15 anos, tendo iniciado na Agência da Rua Chile do Banco da Bahia.

Foto cedida ao Banco da Bahia S.A

Fui distinguido naquela agência, pelos colegas e pelo competente gerente Miguel Djalma Vieira como um garoto prodígio no trato com a clientela, inicialmente, e, a seguir, no aprendizado de todas as carteiras da agência bancária, e por essa razão eu era sempre indicado para substituir antigos colegas titulares de carteiras de ordens de pagamento, de cobrança, de conferência, de controle de depósito, de cheques dentre outros.


Esse trabalho me propiciou vislumbrar ser próspero. E tenho aqui dois exemplos inequívocos. Um deles foi o de ter obtido um aumento salarial naquela agência bancária com apenas seis meses de trabalho. Fiz uma carta ao Diretor Doutor Hélio Figueira relatando minhas dificuldades e de minha dedicação ao Banco. Entreguei a carta ao gerente que me assegurou ter dado boas referências, no entanto ela achava que eu não seria atendido em meu pleito.


O que aconteceu, caro leitor, comigo? Obtive uma resposta positiva da Diretoria do banco autorizando a antecipação de um aumento que eu deveria ter somente ao completar um ano de atividade laboral. Passei a ganhar o dobro. Foi um aumento de cem por cento. Você, caro leitor, entendeu o que escrevi: 100% mesmo! Desse modo pude me vestir melhor, alimentar-me melhor, pagar um pouco mais ao pensionato e enviar dinheiro para minha extremosa mãe que ainda lutava na criação de meus irmãos menores.


O segundo exemplo é que com quatro anos naquela Agência do Banco da Bahia fui convidado para ser subgerente da Casa Bancária Gorges que se encontrava com a tramitação de papéis para a aprovação pela Superintendência da Casa da Moeda e do Crédito (a SUMOC que hoje é o Banco Central do Brasil) de casa bancária para banco. E sem demora passou a chamar-se de Banco Nacional da Bahia S.A. Assumi a subgerência e em pouco tempo fui promovido a Gerente, tendo ficado ali por um lapso de tempo de aproximadamente 11 anos.





Crônica 018
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias








No tempo vivido na cidade de Santo Antônio tive meu primeiro amor. Seu nome: Luíza, linda morena-jambo, pele aveludada, corpo esguio, olhos pretos, cabelos lisos, curtos e negros. Para ela fiz bilhetes, poemas e acrósticos de amor. Passear no jardim da Praça 15 de novembro, subir ao coreto, era um programa envolvente, mãos-dadas, juras de amor. Ir à matinê no Cine Rex era um momento de enlevo especial porque juntos e a propiciar toques gentis. Tinha eu 14 anos de idade que esse amor aflorou.





Crônica 019

Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias


Lembro-me de que ainda aos sete anos de idade, numa viagem feita juntamente com meu pai a São Miguel das Matas, para entrega de mercadorias vendidas, defronte da estação ferroviária, eu estava numa janela de um pensionato, dali avistei uma linda garota de mais ou menos 12 anos de idade, com um vestido bem comprido, estampado com diversas flores coloridas, babados, mangas brancas em laise e cianinhas.


De cabelos curtos e cacheados, bem anelados, pequenas madeixas na cor dourada indo para a cor ruiva. Pele branca com algumas sardas a lhe emoldurar ainda sapatos baixos e cor-de-rosa. Ali fiquei fantasiando pensamentos durante um bom lapso de tempo, imagino de próximamente de uma hora, talvez menos, mas ali fora um despertamento para a beleza da mulher. Queria eu que ela fosse minha amiga e namorada. Ficou tão-somente nisso. A imagem dela perdura até os dias de hoje.




Crônica 020



Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias



pelos idos de meus oito anos tive outro estalo amoroso com uma garota, colega de escola, já menina moça, mais menina que mulher, de seus 13 a 14 anos, corpo coca-cola, nádegas redondas, braços nus e bem torneados, cabelos anelados, pretos, ela era um assanho para mim. Seu nome, acredito que apenas apelido, era Nena. No trajeto de retorno da escola, subindo e descendo ladeiras, sempre estávamos brincando. Ela era uma cabrita espevitada, alegre, folgazã, saltitante, para mim ela bailava em todo seu caminhar com seus jeitos e trejeitos.





Crônica 021

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Nas Escolas Reunidas, prédio Félix Gaspar, situado na Praça em frente da estação da linha ferroviária Nazaré, em Santo Antônio, logo a seguir ao meu primeiro amor que foi Luíza, seguiram-se novos sonhos do por vir entremeados com desejos, promessas de lugares paradisíacos, decisões e indecisões, risos e ansiedades, toques e beijos, num momento com a branquinha Celeste e em outros instantes ao lado de Arlene, Diná, Fidélis, Edna, Ivonete, Ivone, Martha e noutras ocasiões Virgínia, Conceição Faleiro, Elza e por último, ainda no período ginasial, meu segundo grande amor com a fofinha Anamaria.


Se com as precedentes foram casos fortuitos, embora vivificantes em relacionamentos, foi com Anamaria a relação mais subsistente, duradoura e recheada de juramentos de eterno amor. Bilhetes, recados, servindo-me de sua tia Regina, encontros e confissões em diários que registravam acontecimentos, impressões e declarações de amor.

Àquela época com 16 e ela com 14 anos de idade, vivemos bons momentos com declarações de sincero afeto, mas, para mim, aquela era uma relação de pequenas possibilidades de prosperar. Ela pertencia a uma família rica. Seu pai, um lojista da melhor casa de tecidos finos daquela cidade morena do sudoeste baiano. Residia numa linda casa na Avenida Sete de Setembro, todos os anos veraneava em Salvador, praia de Itapoã, em casa de seu tio Bessa, e, quanto a mim, simplesmente um estudante esforçado que residia em modesta casa de aluguel na Rua Castro Alves, em bairro da periferia.



Por ser de família pobre, era somente minha mãe que cuidava em prover recursos para criar oito filhos. Eu carregava comigo um complexo de inferioridade vinculado a sentimentos reais e também imaginários do que é ser pobre. Isso foi um empecilho real que se revelou numa outra ocasião, a de um convite que me foi dirigido pelo Padre Jairo, Diretor do Ginásio Santo Antônio, para que eu fosse candidato a ser Presidente de um Grêmio que estava em formação pela Direção. Sem dar explicação plausível, convincente, rejeitei àquela convocação. Era um exacerbado complexo de inferioridade.





Crônica 022



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E Anamaria? O caro leitor quer saber pouco mais a respeito dela? Está bem, veja a seguir, o perfil de uma garota de pequena estatura, cabelos bem curtos, às vezes com pequenas presilhas e ainda um rosto emoldurado por um estilo "joãozinho" com franjas bem lisonjeiras e sexy e de aparência ligeiramente audaciosa.


De pernas grossas a exemplo das pernas de mulheres gaúchas, cintura fina, cintura de pilão, andava sempre muito bem apessoada, vestuário variado, pouco abaixo do joelho, com um fino gosto, raramente com baton, leve sorriso no trato com as pessoas, voz cadenciada, gestos leves e sutis, gosto refinado de uma princesa.

A parte carnosa do corpo era formada por suas lindas nádegas que ao caminhar lhe dava um movimento oscilatório denotando leve sensualidade a passos lentos, cadenciados, num ritmo de valsa vienense, interminavelmente.


Seu róseo rosto de feições delicadas era a expressão primacial de sua beleza, de sua alegria de viver, e de realce de seus sentimentos prazerosos. Olhos negros, pequenino nariz, sobrancelhas cheias, cílios ostensivos, braços e corpo bem definidos e delicados. Em seus lábios a suavidade e doçura melíflua, meu coração enternecido por Anamaria, ela gentil, afável, cortês, ninfa e diva.





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O complexo de inferioridade recrudesceu num outro momento na tentativa de namoro com Virgínia Barros. Ela, corpo de manequim, cabelos lisos, longos e pretos a conheci primeiramente em Santo Antônio por ocasião de uma pequena estada em gozo de férias com seus pais num casarão que ficava defronte da estação ferroviária, acredito que alugado a Doutor Garcia, renomado cirurgião-dentista.

Filha de médico-cirurgião, escritor e pecuarista, tendo quatro filhas, todas muito lindas, incluindo a caçula Virgínia que a conheci na igreja do pastor Albertino Lyra.

Um ano depois a reencontrei na Dois de Julho, em Salvador. Ah, longe de mim tentar me aproximar dela em razão do intenso complexo de inferioridade que estava, naquele tempo, à superfície, à tona da água... Que era o de ser pobre.


Lembro-me claramente de que certo dia ela passou defronte da Casa de Ferragens, local de meu primeiro trabalho em Salvador, e, repentinamente, minha reação, para não ser visto por ela, foi a de me agachar, escondendo-me detrás do balcão de atendimento a fregueses. Claro que fiquei arrepiado de medo. Acho que tremi. Ela me conhecia como uma pessoa mais ou menos bem apessoada aos domingos. E ali onde eu estava?



Crônica 024


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Ladeira de São Bento

Em minhas idas à igreja, aos domingos, era dia em que eu pegava micro-ônibus linha Macaúbas, curtindo a paisagem do Barbalho até à Praça Municipal, bem próxima da Rua Carlos Gomes, endereço da igreja do pastor Ebenézer Cavalcante, culto reverendo, de reconhecimento nacional, da denominação batista.

Praça Castro Alves

O percurso que fazia durante a semana dirigindo-me ao trabalho era habitualmente a pé para economizar tutu. Esse trajeto era semelhante ao de ir aos domingos para a Rua Carlos Gomes. Meu trabalho ficava no final da Rua Chile, próximo da Praça Castro Alves, local da Agência do Banco da Bahia onde passei a trabalhar após deixar o emprego que tive na Casa de Ferragens Raymundo Correia.
Praça Castro Alves

Saindo do Barbalho passava por pequeno viaduto que se limitava ao bairro Nazaré e dali eu encontrava a Baixa dos Sapateiros, em ponto próximo ao Cine Tupy, decorado com painéis do artista plástico Emmanoel Araújo, seguia em frente no sentido do centro da Cidade, dobrava à direita e subia a ladeira do Pelourinho, passava pelo Terreiro de Jesus, Praça da Sé e por fim a Rua Chile.