Olá caro leitor!
Para você visitar as primeiras postagens
tem de clicar no elenco inicial de 2009 onde aparecem as
crônicas 001 e as subsequentes até 024.
Há os acervos
02 (de 025 a 035), 03 (de 036 a 043) e 04 (de 044 a 055).
O acervo 05 contém a 056 até a 071.
Agora você pode ver
as crônicas de maio a partir da de número 072.
Faça seus comentários,
Abraços / I. Spínola

Crônica 072
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Para você visitar as primeiras postagens
tem de clicar no elenco inicial de 2009 onde aparecem as
crônicas 001 e as subsequentes até 024.
Há os acervos
02 (de 025 a 035), 03 (de 036 a 043) e 04 (de 044 a 055).
O acervo 05 contém a 056 até a 071.
Agora você pode ver
as crônicas de maio a partir da de número 072.
Faça seus comentários,
Abraços / I. Spínola

Crônica 072
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Conheci Souza na década de 70 e rapidamente me tornei seu amigo e confidente. Contou-me, de certa feita, de seus planos de constituir família e de que conhecera uma garota de vida campesina que lhe parecia interessante para casar-se. Num breve lapso de tempo, menos de doze meses, namorou, noivou e casou-se. ...
Rendido pela juventude, beleza e aparência de bom humor que a idade moça em geral confere às mulheres, casara-se com uma pessoa de compreensão limitada e de idéias confusas e grandemente limitadas. Pouco depois do casamento, esses defeitos haviam extinguido todo o afeiçoamento sincero que tinha por ela.
O respeito, a estima, a confiança tinham-se desbotado. E todos os seus anseios de felicidade doméstica foram aniquilados. Mas o senhor Souza não era desses homens que procuram se consolar das desilusões causadas por suas próprias faltas de antevidências entregando-se a esses prazeres em que os infelizes procuram uma compensação para suas loucuras e vícios.
Ele gostava de música, teatro e de boa leitura, suas principais ocupações de lazer na vida metropolitana da capital baiana. Quanto à sua esposa, pouco mais lhe devia do que os divertimentos que o espetáculo de sua postura insciente e de sua falta de sensibilidade lhe tinha proporcionado.
Essa não é a espécie de felicidade que os homens em geral desejam encontrar no casamento. Mas, na falta de outros dons, aquele que cultiva a filosofia se contentará com os poucos que lhe são dados.
Há muitos lugares... Naves, templos, músicas altissonantes, outras ululantes, lugares cativantes pela paisagem, pela arquitetura de linhas portentosas, outros por grutas, pequenas cachoeiras, baixadas entre montanhas para caminhadas solenes, vegetação exuberante com a beleza do lugar prendendo os simpatizantes, e mesmo com a rígida disciplina imposta pelos dirigentes da seita que veneram uma sabedoria morta, uma tradição igualmente morta e instrutor morto, todos os ministros ficam chocados com o afastamento do provável membro, este ameaçado de treva espiritual. É a treva!
Outros incentivam o retiro espiritual com meditações prescritas que levam o visitante a armadilhas como a de prender os discípulos a seus guias espirituais e assim pululam de crenças em crenças, em seitas, religiões com ligeiras variações entre elas. Todas querem prender e forçar a ajustar-nos a um dado padrão, ao modo de vida instituída pelo instrutor, o dono da verdade... Está ligado?
Nunca dão a liberdade, apenas prometem-na. E a submissão dá satisfação, garante ao discípulo o confere poder também ao instrutor. Fortalece-se a autoridade e leva todos a um estado de falta de energia e de enfraquecimento e a isso se chama de paz e a conseqüente anestesia da mente. Não é isso que comumente acontece, lúcido leitor?
A submissão à autoridade dos mortos ou dos vivos dá contentamento. O instrutor sabe e ambos prosperam na exploração mútua. Você vai para adorar e para ser confortado e a isso se dá o nome de busca da verdade, mas como gostamos de enganar a nós mesmos, existe a compulsão ou a promessa de recompensa sob variegadas formas.
Eu vou. Você vai. Nós vamos à busca de paz e o que se nos oferecem são compulsão, doutrinas confusas, contraditórias, vividas num contexto histórico diferente e bem distante, provindas de culturas díspares e de vãs promessas de galardão celestial. Se formos cegos, aceitamos todas as crendices que nos oferecem.
O médico doutor Sérgio fez, além de sua graduação normal, iridologia e abraçou a clínica de medicina natural na linha de Manuel Lezaetta que publicou o livro ‘Medicina natural ao alcance de todos’. Livro de cabeceira da maioria dos naturalistas.
Antes de conhecer o doutor Sérgio, servindo-me de uma consulta marcada em sua clínica e moradia no bairro Saboeiro, contíguo ao Cabula, em Salvador na Bahia, anos atrás, tinha eu constante mal-estar sem gravidade, a exemplo de torcicolos, dores de cabeça, enxaqueca, flatulência, má digestão, dores na coluna cervical, dores nas pernas, cálculo nos rins que a cada dois anos tinha de me dirigir à emergência do Hospital Jorge Valente, valendo-me do plano de saúde atendido ali. A consulta durou aproximadamente duas horas, sentados, quase agachados, eu e o médico, em macios almofadões. Consulta única. Não precisei retornar nem para uma revisão. Segui rigorosamente a orientação que me foi dada, adquiri o livro de Lezaetta e levei doze meses dentro daquele figurino que me foi presenteado.
Referindo-me às minhas bienais crises renais que me eram acometidas o médico e naturalista, no dia de minha consulta, informou-me de que eu ainda teria uma última crise renal num lapso de tempo de noventa dias. Sessenta dias após, e com a prática da alimentação e de procedimentos por ele recomendados, sem tomar remédio nenhum, ocorreu-me a predita e dolorosa crise renal, talvez a de maior sofrimento porque não pude dirigir o veículo e fui conduzido ao hospital. São passados trinta anos de vida frugal e nenhuma outra crise renal no ‘pindorama da vida’ e todos os achaques desapareceram.
Tornei-me numa pessoa de plena saúde. Dor de cabeça, tão comum às pessoas em geral, é expressão que não existe em meu glossário. Tive informação de que o médico, iridologista e terapeuta, doutor Sérgio foi residir na Chapada Diamantina, dedicando-se ao naturismo, saúde holística, no vale do Capão, Bahia.
Conheci Souza na década de 70 e rapidamente me tornei seu amigo e confidente. Contou-me, de certa feita, de seus planos de constituir família e de que conhecera uma garota de vida campesina que lhe parecia interessante para casar-se. Num breve lapso de tempo, menos de doze meses, namorou, noivou e casou-se.
...Rendido pela juventude, beleza e aparência de bom humor que a idade moça em geral confere às mulheres, casara-se com uma pessoa de compreensão limitada e de idéias confusas e grandemente limitadas.
Pouco depois do casamento, esses defeitos haviam extinguido todo o afeiçoamento sincero que tinha por ela. O respeito, a estima, a confiança tinham-se desbotado. E todos os seus anseios de felicidade doméstica foram aniquilados.
Mas o senhor Souza não era desses homens que procuram se consolar das desilusões causadas por suas próprias faltas de antevidências entregando-se a esses prazeres em que os infelizes procuram uma compensação para suas loucuras e vícios. Ele gostava de música, teatro e de boa leitura, suas principais ocupações de lazer na vida metropolitana da capital baiana.
Quanto à sua esposa, pouco mais lhe devia do que os divertimentos que o espetáculo de sua postura insciente e de sua falta de sensibilidade lhe tinha proporcionado. Essa não é a espécie de felicidade que os homens em geral desejam encontrar no casamento. Mas, na falta de outros dons, aquele que cultiva a filosofia se contentará com os poucos que lhe são dados.
Maria Helena Avena, boa amiga de tempos idos e vividos, lá na Rua Chile em Salvador, capital baiana, vividamente, recordo-me de quando ainda eu trabalhava na gerência do Banco Nacional da Bahia, ela, estudante na faculdade de letras, habitualmente, e por simples divertimento, empregava em seus colóquios, palavras esdrúxulas como se elas fossem oxítonas. A mais usual era 'interim'.
Quando ouvi pela primeira vez fiquei espantado, e em minha tentativa de corrigi-la, percebi meu ledo engano por não entender o estilo em que se usa o vocabulário de contentamento, e, de já, com seu sorriso, desfeito meu sobressalto ao perceber seu enunciado de pensamento por meio de gestos, e de palavras reinventadas, associadas às expressões de seu rosto e de sua cintilante alegria.
Ouça aqui Noel Rosa:
Conversa de botequim - Noel Rosa
Rendido pela juventude, beleza e aparência de bom humor que a idade moça em geral confere às mulheres, casara-se com uma pessoa de compreensão limitada e de idéias confusas e grandemente limitadas. Pouco depois do casamento, esses defeitos haviam extinguido todo o afeiçoamento sincero que tinha por ela.
O respeito, a estima, a confiança tinham-se desbotado. E todos os seus anseios de felicidade doméstica foram aniquilados. Mas o senhor Souza não era desses homens que procuram se consolar das desilusões causadas por suas próprias faltas de antevidências entregando-se a esses prazeres em que os infelizes procuram uma compensação para suas loucuras e vícios.
Ele gostava de música, teatro e de boa leitura, suas principais ocupações de lazer na vida metropolitana da capital baiana. Quanto à sua esposa, pouco mais lhe devia do que os divertimentos que o espetáculo de sua postura insciente e de sua falta de sensibilidade lhe tinha proporcionado.
Essa não é a espécie de felicidade que os homens em geral desejam encontrar no casamento. Mas, na falta de outros dons, aquele que cultiva a filosofia se contentará com os poucos que lhe são dados.
Crônica 073
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Quase todas as religiões esposam idéias expansionistas e cada uma delas se diz detentora de verdades. É freqüente o sacerdote, reverendo, bispo, guru, pastor, chefe espiritual ter alguma experiência e repetir frases que seus discípulos e seguidores entendem, sendo que uns falam frases em sânscrito, outros em grego, latim, invocam forças e falam línguas ininteligíveis com o fito de passar credibilidade a seus ouvintes simpatizantes, mas ficam horrorizados quando algum membro resolve deixar a comunidade, achando impossível que alguém pensasse deixar um guia espiritual tão sábio. E há lugares para todo gosto. Para todo tipo de carência. Já mencionei isso anteriormente.Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Há muitos lugares... Naves, templos, músicas altissonantes, outras ululantes, lugares cativantes pela paisagem, pela arquitetura de linhas portentosas, outros por grutas, pequenas cachoeiras, baixadas entre montanhas para caminhadas solenes, vegetação exuberante com a beleza do lugar prendendo os simpatizantes, e mesmo com a rígida disciplina imposta pelos dirigentes da seita que veneram uma sabedoria morta, uma tradição igualmente morta e instrutor morto, todos os ministros ficam chocados com o afastamento do provável membro, este ameaçado de treva espiritual. É a treva!
Outros incentivam o retiro espiritual com meditações prescritas que levam o visitante a armadilhas como a de prender os discípulos a seus guias espirituais e assim pululam de crenças em crenças, em seitas, religiões com ligeiras variações entre elas. Todas querem prender e forçar a ajustar-nos a um dado padrão, ao modo de vida instituída pelo instrutor, o dono da verdade... Está ligado?
Nunca dão a liberdade, apenas prometem-na. E a submissão dá satisfação, garante ao discípulo o confere poder também ao instrutor. Fortalece-se a autoridade e leva todos a um estado de falta de energia e de enfraquecimento e a isso se chama de paz e a conseqüente anestesia da mente. Não é isso que comumente acontece, lúcido leitor?
A submissão à autoridade dos mortos ou dos vivos dá contentamento. O instrutor sabe e ambos prosperam na exploração mútua. Você vai para adorar e para ser confortado e a isso se dá o nome de busca da verdade, mas como gostamos de enganar a nós mesmos, existe a compulsão ou a promessa de recompensa sob variegadas formas.
Eu vou. Você vai. Nós vamos à busca de paz e o que se nos oferecem são compulsão, doutrinas confusas, contraditórias, vividas num contexto histórico diferente e bem distante, provindas de culturas díspares e de vãs promessas de galardão celestial. Se formos cegos, aceitamos todas as crendices que nos oferecem.
O médico doutor Sérgio fez, além de sua graduação normal, iridologia e abraçou a clínica de medicina natural na linha de Manuel Lezaetta que publicou o livro ‘Medicina natural ao alcance de todos’. Livro de cabeceira da maioria dos naturalistas.
Antes de conhecer o doutor Sérgio, servindo-me de uma consulta marcada em sua clínica e moradia no bairro Saboeiro, contíguo ao Cabula, em Salvador na Bahia, anos atrás, tinha eu constante mal-estar sem gravidade, a exemplo de torcicolos, dores de cabeça, enxaqueca, flatulência, má digestão, dores na coluna cervical, dores nas pernas, cálculo nos rins que a cada dois anos tinha de me dirigir à emergência do Hospital Jorge Valente, valendo-me do plano de saúde atendido ali. A consulta durou aproximadamente duas horas, sentados, quase agachados, eu e o médico, em macios almofadões. Consulta única. Não precisei retornar nem para uma revisão. Segui rigorosamente a orientação que me foi dada, adquiri o livro de Lezaetta e levei doze meses dentro daquele figurino que me foi presenteado.
Referindo-me às minhas bienais crises renais que me eram acometidas o médico e naturalista, no dia de minha consulta, informou-me de que eu ainda teria uma última crise renal num lapso de tempo de noventa dias. Sessenta dias após, e com a prática da alimentação e de procedimentos por ele recomendados, sem tomar remédio nenhum, ocorreu-me a predita e dolorosa crise renal, talvez a de maior sofrimento porque não pude dirigir o veículo e fui conduzido ao hospital. São passados trinta anos de vida frugal e nenhuma outra crise renal no ‘pindorama da vida’ e todos os achaques desapareceram.
Tornei-me numa pessoa de plena saúde. Dor de cabeça, tão comum às pessoas em geral, é expressão que não existe em meu glossário. Tive informação de que o médico, iridologista e terapeuta, doutor Sérgio foi residir na Chapada Diamantina, dedicando-se ao naturismo, saúde holística, no vale do Capão, Bahia.
Conheci Souza na década de 70 e rapidamente me tornei seu amigo e confidente. Contou-me, de certa feita, de seus planos de constituir família e de que conhecera uma garota de vida campesina que lhe parecia interessante para casar-se. Num breve lapso de tempo, menos de doze meses, namorou, noivou e casou-se.
...Rendido pela juventude, beleza e aparência de bom humor que a idade moça em geral confere às mulheres, casara-se com uma pessoa de compreensão limitada e de idéias confusas e grandemente limitadas.
Pouco depois do casamento, esses defeitos haviam extinguido todo o afeiçoamento sincero que tinha por ela. O respeito, a estima, a confiança tinham-se desbotado. E todos os seus anseios de felicidade doméstica foram aniquilados.
Mas o senhor Souza não era desses homens que procuram se consolar das desilusões causadas por suas próprias faltas de antevidências entregando-se a esses prazeres em que os infelizes procuram uma compensação para suas loucuras e vícios. Ele gostava de música, teatro e de boa leitura, suas principais ocupações de lazer na vida metropolitana da capital baiana.
Quanto à sua esposa, pouco mais lhe devia do que os divertimentos que o espetáculo de sua postura insciente e de sua falta de sensibilidade lhe tinha proporcionado. Essa não é a espécie de felicidade que os homens em geral desejam encontrar no casamento. Mas, na falta de outros dons, aquele que cultiva a filosofia se contentará com os poucos que lhe são dados.
Crônica 076
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Memórias Incontáveis de Incontáveis Memórias
Maria Helena Avena, boa amiga de tempos idos e vividos, lá na Rua Chile em Salvador, capital baiana, vividamente, recordo-me de quando ainda eu trabalhava na gerência do Banco Nacional da Bahia, ela, estudante na faculdade de letras, habitualmente, e por simples divertimento, empregava em seus colóquios, palavras esdrúxulas como se elas fossem oxítonas. A mais usual era 'interim'.
Quando ouvi pela primeira vez fiquei espantado, e em minha tentativa de corrigi-la, percebi meu ledo engano por não entender o estilo em que se usa o vocabulário de contentamento, e, de já, com seu sorriso, desfeito meu sobressalto ao perceber seu enunciado de pensamento por meio de gestos, e de palavras reinventadas, associadas às expressões de seu rosto e de sua cintilante alegria.
Ouça aqui Noel Rosa:
Conversa de botequim - Noel Rosa